Clone de chip e quebra de sigilo de mensagens: investigação sobre morte de homem que saiu de casa de pijama é concluída e suspeito é indiciado
03/12/2025
(Foto: Reprodução) Polícia conclui inquérito sobre a morte de Danilo Bido
A Polícia Civil (PC-PR) de Iporã, no noroeste do Paraná, concluiu o inquérito sobre a morte de Danilo Roger Bido Ferreira. A vítima foi esfaqueada e morta no dia 31 de agosto, após dizer para mãe que buscaria um carregador na casa de uma amiga e sair ainda vestido de pijama. O g1 teve acesso ao relatório policial sobre o assassinato de Danilo. Veja os detalhes abaixo.
Foram três meses de investigação, com 28 depoimentos, sendo que três amigos chegaram a ser considerados suspeitos. Um chip com o número telefônico de Danilo também foi clonado para ser possível o rastreio de mensagens que ajudaram a polícia a chegar ao verdadeiro autor.
Diego Augusto de Lima Santos, de 24 anos, confessou em depoimento ter assassinado Danilo. Com a finalização deste inquérito, ele foi indiciado por por fraude processual e homicídio qualificado: motivo torpe, fútil, meio cruel e mediante emboscada e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
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O mesmo homem também disse ter cometido outros três homicídios na cidade, em datas diferentes. A polícia, entretanto, confirmou a autoria de Diego em dois deles: contra José Antônio, no dia 13 de março, e Gilberto Lucca, no dia 4 de setembro. As duas vítimas viviam em situação de rua. Esses três casos são apurados em inquéritos diferentes, e a polícia não confirma que Diego seja um serial killer, como ele se autodeclarou.
Ele segue preso na cadeia pública de Iporã. O g1 entrou em contato com a defesa de Diego, mas não teve resposta até a última atualização desta reportagem.
O inquérito sobre a morte de Danilo foi remetido ao Ministério Público do Paraná (MP-PR), nesta segunda-feira (1º). O órgão confirmou o recebimento e explicou que possui o prazo de cinco dias para analisar o relatório. Depois disso, o MP-PR deverá decidir por denunciar Diego ou não.
Confira nesta reportagem com foi feita a investigação:
Primeiro suspeito
Quebra de sigilo telefônico
Rastreio por Estação Rádio Base (ERB)
Câmeras de segurança
Linha do tempo do Google
O que diz o advogado que representa a família de Danilo?
Primeiro suspeito
Danilo saiu de casa de pijama na madrugada do dia 31 de agosto, dizendo à mãe que ia buscar um carregador de celular na casa de uma amiga. O corpo dele foi encontrado na manhã do mesmo dia, em uma estrada rural da cidade. De acordo com o laudo da Polícia Científica, Danilo foi assassinado com 18 facadas.
Danilo Roger Bido Ferreira, de 32 anos, foi encontrado morto em Iporã.
Cedidas pela família
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Um amigo de Danilo foi preso suspeito de cometer o crime. À época, o delegado Luã Mota explicou que as suspeitas surgiram depois de análises de dados telefônicos. Outro ponto considerado pela polícia foi o fato de testemunhas revelarem em depoimento que ele e a vitima tiveram "vínculo pessoal anterior".
Com o avanço das apurações, o rapaz foi solto após a polícia não conseguir identificar qualquer tipo de relação dele com o assassinato. Ele também não foi citado no indiciamento.
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Quebra de sigilo telefônico
Por meio de uma medida cautelar, a polícia criou um novo chip com o mesmo número telefônico usado por Danilo e conseguiu acesso o aplicativo de mensagens dele. A partir disso, foi possível extrair as conversas dele com amigos, familiares e conhecidos.
Durante a análise, a polícia considerou como suspeitos outros dois amigos de Danilo - além daquele que foi preso e liberado. O avanço da investigação inocentou as três pessoas.
"No início da investigação, a equipe policial se deparou com um cenário extremamente complexo, marcado por escassez de informações, ausência de testemunhas oculares, múltiplas hipóteses iniciais e incerteza quanto à motivação e autoria dos fatos. Diante disso, até que se chegasse ao autor delitivo [...] houve necessidade de abertura de várias linhas investigativas paralelas", destaca o documento.
A polícia também conseguiu a quebra de sigilo da conta de uma rede social de Danilo. Nela, foi visto que uma das últimas conversas da vítima foi com um perfil desativado, em que ela se referia à pessoa pelo nome de Diego.
As mensagens enviadas pelo perfil foram apagadas, mas restavam as respostas de Danilo. Uma delas dizia que ele estaria em Iporã no dia 31 de agosto e confirmava o interesse em um encontro.
Danilo Roger Bido Ferreira, de 32 anos, foi encontrado morto em Iporã.
Redes sociais/Reprodução
Rastreio por Estação Rádio Base (ERB)
A polícia, então, pediu à operadora de telefonia o acesso à Estação Rádio Base (ERB), localizada na região onde o assassinato aconteceu.
Com essas informações, foi confirmado que o último sinal emitido pelo celular de Danilo foi à 1h45. Depois, foi realizado o cruzamento de dados com outros números que emitiram sinal na mesma data. Assim, o número de celular de Diego Augusto de Lima Santos foi identificado.
"O referido número apresentou exatamente os mesmos padrões de conexão e localização que o da vítima, apontando indícios relevantes de envolvimento no homicídio", revela o documento.
Câmeras de segurança
As imagens de câmeras de segurança da cidade mostraram o trajeto feito por Danilo na noite em que foi assassinado. Uma delas revelou que Danilo se encontrou com um homem próximo à casa dele, e os dois ficaram andando de carro por 20 minutos.
A última imagem capturada, segundo o relatório, mostrou Danilo seguindo em direção à zona rural, à 1h21 da madrugada, horário que coincide com a estimativa do assassinato.
A partir do nome Diego encontrado na rede social e pelo sinal da ERB, a polícia confrontou as digitais encontradas na porta traseira do carro de Danilo. Foi desta forma que o exame pericial comparativo confirmou a presença de Diego no carro da vítima.
Digital de Diego foi encontrada na porta do carro de Danilo.
Reprodução
Linha do tempo do Google
Depois que Diego foi preso, o celular dele foi apreendido e a polícia extraiu os dados que confirmaram a presença dele onde o homicídio aconteceu. Para isso, foi usada a funcionalidade Linha do Tempo do Google.
"O trajeto registrado é compatível com o percurso que leva ao local do crime, evidenciando que o investigado esteve presencialmente na cena durante o período aproximado do fato. Após o horário da consumação do delito, o registro mostra que Diego deixou a área rural e retornou diretamente para sua residência, compatibilizando-se com a dinâmica reconstruída pela investigação", relata o documento.
Linha do tempo do Google confirmou a presença de Diego no local do homicídio.
Reprodução
O que diz o advogado que representa a família de Danilo?
"A família de Danilo Roger Bido Ferreira, por meio de seu advogado, vem a público manifestar-se após o indiciamento formal de Diego Augusto de Lima Santos pela prática do homicídio que vitimou Danilo, na madrugada de 31 de agosto de 2025, na zona rural de Iporã.
O relatório Knal da Polícia Civil reúne um conjunto robusto de provas — laudos periciais, dados telefônicos, impressões digitais, registros de localização e evidências digitais — todos apontando de forma clara para a participação de Diego no crime.
Diante desse conjunto probatório sólido, o investigado foi indiciado pelos crimes de homicídio qualificado por motivo torpe, motivo fútil, meio cruel, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima e fraude processual, conforme previsto nos arts .121, §2º, I, II, III e IV, e 347 do Código Penal, em concurso material (art. 69 do CP).
Com o indiciamento, inicia-se a etapa seguinte para que os fatos sejam levados ao Poder Judiciário. A família reafirma que buscará, em juízo, a condenação do acusado nos termos da lei, acompanhando cada fase do processo até que justiça seja feita.
Danilo era um jovem querido, trabalhador e profundamente amado por sua família. Sua memória seguirá sendo honrada com a busca incansável pela verdade e pela responsabilização do autor."
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